São Paulo / SP - sábado, 04 de maio de 2024

Indicações e contra-indicações do Hormônio de Crescimento

Indicações e contra-indicações do Hormônio de Crescimento


A reposição hormonal é tema que desperta grande interesse nos pais, cada vez mais preocupados com o desenvolvimento adequado de seus filhos. Entre os médicos, a questão também é bastante discutida, gerando dúvidas entre os não-especialistas. Segundo o presidente do Departamento Científico de Endocrinologia da SBP, Dr. Durval Damiani, a utilização dos hormônios chamados de crescimento, e conhecidos pela sigla em inglês, GH, Growth Hormone, vai muito além do que sugere o nome. Dr. Durval é professor titular de Bioquímica da Universidade Metropolitana de Santos (Unimes) e professor livre-docente da Unidade de Endocrinologia Pediátrica do Instituto da Criança- Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Sobre o assunto, concedeu ao SBP Notícias a entrevista a seguir.


Dr. Durval, o conhecido hormônio de crescimento deveria ter outro nome?

Sim, porque seu uso vai muito além disto. Sinto que o endocrinologista tem este entendi mento, mas o pediatra em geral não.

O Sr. poderia explicar melhor?
Há diversos outros casos em que pode ser usado com sucesso, pois é um hormônio metabólico. Pessoas que sofrem com a Síndrome de Prader Willi (uma doença endócrino-neuro comportamental decorrente de uma alteração genética considerada não-hereditária e, na maioria das vezes, diagnosticada com o início da obesidade) podem se beneficiar dele, assim como crianças que nascem com retardo de crescimento intra uterino podem melhorar. Há assim usos não convencionais, que nada têm a ver com o desenvolvimento apenas físico da criança.

Quando então deve ser usado?
Toda terapêutica hormonal tem uma indiscutível indicação, a REPOSIÇÃO. Ou seja, o paciente não está produzindo adequadamente determinado hormônio, necessitando assim de suplementação.

Dessa forma, a maior e indiscutível indicação para o uso de GH é nas crianças que têm baixa estatura em decorrência da sua falta. O problema complica-se quando passamos a discutir quem tem deficiência de GH e qual o grau dessa deficiência, a ponto de justificar uma terapêutica injetável, de uso diário e extremamente onerosa. 

Como o pediatra deve então proceder?
Quando a criança tem o quadro típico de deficiência de GH, com baixa estatura, baixa velocidade de crescimento, atraso da idade óssea, hipoglicemia (que se traduz por mal-estar, palidez, sudorese, principalmente seguindo-se a jejum prolongado) e exames laboratoriais confirmatórios da deficiência hormonal, o diagnóstico fica simplificado e a terapêutica devolve ao paciente a capacidade de atingir sua altura-alvo, ou seja, a altura geneticamente condicionada. Muitas vezes, cria-se a falsa impressão de que os pais podem escolher a altura do filho ou da filha, o que evidentemente não é verdade, já que o aspecto genético é primordial na altura final.

E nos demais casos?
O problema se complica nos casos em que a deficiência hormonal não é tão clara, os exames não são suficientemente discriminatórios e a velocidade de cresci mento é baixa.

Neste caso, o que fazer?
A primeira tarefa do endocrinologista pediátrico é descartar outras causas de baixa estatura, como doenças crônicas, doenças ósseas, desnutrição, agravos emocionais sérios e assim por diante.

Que dificuldades podem ser encontradas?
Muitas crianças absolutamente normais apresentam respostas de GH compatíveis com deficiência, mostrando que os métodos de análise são falhos e podem confundir na indicação terapêutica.

Qual é o melhor método?
Um dos parâmetros mais confiáveis que assegura que a criança está crescendo bem e não apresenta deficiência hormonal é sua curva de cresci mento, que todo pediatra deve ter. O crescimento normal caracteriza-se por ser harmonioso, sem mu danças importantes no seu canal de crescimento, quer para mais, quer para menos. Dessa forma, uma boa ficha pediátrica muitas vezes é mais valiosa do que uma série de trabalhosos e caros exames de laboratório.

E quanto às outras indicações?
Saindo da deficiência de GH, há outras indicações de seu uso, como nas crianças com Síndrome de Turner (crianças que , pela falta de um dos cromossomos sexuais desenvolvem um quadro clíico bem característico, com acentuada baixa estatura), nas situações de insuficiência renal crônica. Em algumas outras situações, como em grandes queimados, baixa estatura constitucional, atraso de crescimento intra-uterino, há defensores fervorosos ao lado de autores que formalmente contra-indicam a terapêutica. O importante a ser ressaltado é que o pediatra que segue uma criança tem total condição de detectar desvios no cresci mento normal, bem como descartar causas importantes nesses desvios. O encaminhamento ao endocrinologista pediátrico acaba sendo uma conseqüência natural já que os tratamentos com GH exigem que o profissional esteja habituado com a medicação e saiba corretamente avaliar seus resulta dos. O trabalho em cooperação com o pediatra geral certamente reflete-se em benefícios tanto para a criança quanto para as famílias
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